segunda-feira, 28 de maio de 2018

RESENHA: HOJE EU VENCI O CÂNCER - DAVID COIMBRA - EDITORA L&PM

Boa noite, pessoal!

Em abril/2018 vi notícias sobre o lançamento do livro “Hoje eu venci o câncer” de autoria do David Coimbra, o qual foi lançado pela L&PM:

"O jornalista, romancista e cronista David Coimbra se dedica aqui a provar que o otimismo e a vontade de viver podem ser uma prescrição eficiente no conjunto de medicamentos com que se enfrenta uma doença grave. Em primeiro lugar, não se deve nunca abdicar do direito de (con)viver com seus afetos e se dedicar aos bons amigos e à família; depois, é valorizar o dia a dia naquilo que ele tem de mais trivial, seja um nascer do sol ao lado do filho ou a singela aquarela de um poente tímido. Você pode estar em Porto Alegre, no Rio de Janeiro, em Dubai ou em Massachusetts, não importa. O essencial é viver o presente da melhor maneira possível, um dia após o outro, comemorando cada vitória."

Antes de adentrar na obra tenho que confessar que o David Coimbra está numa seleta categoria de autores que sempre faço questão de adquirir a obra. É um daqueles escritores que me dá prazer, isto é, a leitura de seus livros e sua narrativa sempre me faz bem!
"Eu estou vivo!
Foi por isso que decidi escrever esse livro que você tem diante dos olhos. Para falar da vida, não da morte.
E dessa curiosa experiência no limiar entre elas."

Desse modo, é evidente que, no momento que li a notícia sobre o lançamento, já havia decidido comprar o livro. No entanto, devido a minha pilha eterna de obras que serão lidas acabei demorando a desfrutá-lo.

Quando o David lançou “Uma Historia do Mundo” eu fiz a leitura em menos de 24hs e fui faceira buscar meu autógrafo na Feira do Livro... Claro que eram outros tempos e a vida era um pouco mais leve para me permitir isso, mas digo isso para registrar o quanto suas obras me satisfazem.

Não sei precisar exatamente o ano em que tomei ciência da existência do David Coimbra, mas tudo começou na juventude e na minha mania de ler o jornal de trás para frente buscando notícias sobre meu amado Grêmio.

Após um tempo buscava o jornal não apenas pelas notícias esportivas do meu clube, mas também para ler suas crônicas. Diante disso, não preciso nem dizer o quanto me senti feliz ao tomar conhecimento de que também poderia acompanha-lo através de livros.


Não sei explicar o que define nossas preferências ao longo da vida e por que gostamos do que gostamos, mas independente de ter um estilo literário diferente e concordar ou não com suas posições e convicções como jornalista sinto uma admiração pelo autor.

Há alguns escritores que conseguem pegar um assunto banal e corriqueiro, bem como sentimentos tão comuns da natureza humana e traduzi-los de um modo sublime para seus livros. Com sua escrita leve conseguimos rir das pequenas tragédias cotidianas e a quase nos ver como parte da história. É como se soubessem verdadeiramente o que está gravado na alma de seu leitor! 


Claro que essa é a minha humilde opinião, mas classifico autores como David Coimbra e Fabrício Carpinejar nessa categoria que citei acima. Cada um a seu modo e dentro de sua esfera de interesse escreve com maestria e simplicidade sobre a rotina diária, sentimentos, filhos, amores, futuro, futebol, isto é, pura e simplesmente sobre a vida. E por ser um tema que nos é tão próximo compartilhamos da alegria, da melancolia e da emoção de sua escrita.

Enfim, tal introdução é uma tentativa de explicar como me senti triste quando soube da notícia de sua doença ainda que seja uma pessoa fora do meu convívio pessoal e com a qual não tenho um contato direto. Evidente que há empatia pela situação do outro ser humano, mas era também uma sensação de que isso ocorria com um amigo meu... Não sei bem como expressar esse sentimento, mas garanto a vocês que não sou nenhuma psicopata que persegue autores e pessoas famosas! Hahaha

Mas voltando ao livro, é evidente que havia criado alguma expectativa devido ao assunto que seria abordado, mas o David me surpreende com a leveza de seu livro. Trata-se de uma rara combinação de uma realidade dura e honesta, devido a gravidade da doença, com um bom humor inteligente.



O livro é forte e trata da história do David, isto é, de como ele lidou com a descoberta do câncer com metástase. A narrativa intercala sua trajetória de vida com as crônicas que publicou em momentos difíceis de seu tratamento para recobrar a saúde.

“Quantos dias mais me cabem? Não sei. Felizmente não sei. Mas, sejam quantos forem, o que espero deles é poder terminá-los olhando o sol que se põe, talvez sorrindo para alguém que amo, talvez fazendo um brinde a vida, ou apenas dizendo para mim mesmo; tem sido bom”

Eu já havia lido as crônicas citadas no livro quando ele as publicou no jornal, mas preciso dizer que foi inevitável não me emocionar novamente. Principalmente com a crônica "O menino e a árvore", a qual considero de uma pureza sem igual:

"(...)
A brisa da manhã balançava as folhas verde-escuras e me dava preguiça. Mas percebi que o B agora ressonava, afastei devagar sua cabeça do meu peito e, com todo cuidado, me levantei. Fui à cozinha e preparei o café. Voltei à sala com a xícara na mão, caminhei até a sacada e pus-me a olhar para a grande árvore a poucos metros de mim. 

Olhava ora para as folhas que dançavam ao vento e ora para o menino que dormia. Do menino pequeno para a grande árvore, da grande árvore para o menino pequeno. Sorri. Do que mais precisava para me sentir feliz? Nada, nada. Salvo, talvez, saber que árvore é aquela, afinal."

Eu me emocionei na primeira vez que a li e depois quando a reli no livro... Tenho certeza que continuarei a me emocionar independentemente de quantas vezes a leia!

Enfim, eu indico esse livro para que vocês também possam fazer uma reflexão profunda ao perceberam o tanto de coisas que nos escapam na correria do dia a dia... Cada um tem a sua própria mazela a consumir os dias, mas não podemos perder a determinação e os laços de amizade que nos permitem enfrentar com alegria e esperança todas as situações. Mesmo diante da pior dificuldade o dia pode ser lindo, mas para isso tem que se querer ver e apreciar.

"Então, o que aprendi não foi nada grandioso. Ao contrário, aprendi que não são supostas glórias ou façanhas que vão me fazer feliz, e sim a soma de dias bons."

Bjs.