Eu tive contato com esse livro graças a minha assinatura da Tag Inéditos. Nas apresentações antes do envio do Kit havia a proposta de se tratar de um romance biográfico contando a história de Hedy Lamarr (nome artístico), uma atriz considerada o ícone da beleza e glamour e a cientista cuja invenção inovadora revolucionou a comunicação moderna.
Num rápido resumo destaco que Hedwig Eva Maria Kiesler nasceu, em 09 de novembro de 1914, na cidade de Viena, Áustria. É filha de Gertrud Lichtwitz, uma pianista de Budapeste, e Emil Kiesler, um diretor bancário. A família de Hedy tinha origem judia e ela estudou balé e piano até os 10 anos de idade. Ao 19 anos, Hedy casou com Friedrich Mandl, um vienense fabricante de armas.
O livro é dividido em duas partes. Na primeira temos um relato sobre o início da carreira de atriz de Hedy em Viena, bem como sobre seu casamento com Fritz Mandl e a expansão alemã sobre o comando de Hitler. Já na segunda parte somos agraciados com sua chegada aos cinemas americanos e sua contribuição tecnológica para o mundo.
Gostei muito do estilo da escrita na parte I do livro, bem como do fato de ser baseado em uma pessoa real. Foi uma leitura agradável e emocionante ao imagina o horror que deve ter sido a vida de Hedy durante seu casamento com Fritz e na iminência dos avanços de Hitler atingirem seu país.
Acho que a autora conseguiu retratar muito bem a mulher intensa e que conhece o poder surpreendente de sua beleza, mas que ao mesmo tempo deseja ser reconhecida por sua inteligência. Uma mulher talentosa e forte que não quer mais viver em uma casca, mas almeja ter seu eu interior visto pelas demais pessoas.
Acredito que se o livro focasse apenas em seu casamento com Friedrich Mandl e na natureza violenta e ciumenta, bem como nas pressões políticas e familiares que lhe guiaram na decisão de casar com ele já teríamos um livro intenso pela opressão que ela sofria e devido aos horrores de suas relações com os nazistas.
Confesso que senti falta de um desfecho quanto ao Fritz. Gostaria de saber como deve ter sido sua reação ao descobrir como Hedy libertou-se de sua prisão. A vida antes do EUA foi a que mais teve licença poética da autora então acredito que poderia ter fechado essa parte com alguma menção a essa questão.
No entanto, num resumo geral da Parte I achei a história muito envolvente e com uma narrativa impecável.
Quando se inicia a Parte II eu me enchi de expectativa sobre como seria sua carreira como atriz e como ela poderia ter se tornado inventora. Já estava estabelecido que Hedy possuía uma beleza única e deslumbrante e finalmente saberíamos como a sociedade da época lidaria com o fato de uma atriz ser cientista. Estava realmente ansiosa para saber como sua sagacidade lhe introduziria no mundo dos inventores, pois como anunciado no novo capítulo “do mar nasceria sua nova história”.
Achei que a história envolvendo o início de sua carreira em Hollywood foi contado de um modo apressado. Entendo que não era o foco principal do livro, mas nomes de homens foram sendo elencados como romances e nem sua relação com o filho adotivo chegou a ser aprofundada. Igualmente há uma nítida relação emocionalmente conturbada com sua mãe, a qual acabou ficando sem um desfecho, pois o livro terminou sem falar nada sobre sua chegada nos Estados Unidos.
Essa sensação de urgência para terminar a história me acompanhou por toda parte II. Era como se a autora precisasse terminar logo e algumas lacunas acabaram não sendo preenchidas.
A personagem principal é uma mulher forte e obstinada, razão pela qual fiquei decepcionada com a abordagem dada a sua vida como inventora. Foram pouco mais de 50 páginas para falar dessa questão que era interessantíssima em sua nova vida. Não há tempo suficiente para aprofundar a relação dela com George Antheil a fim de convencer na profundidade da ligação e amizade entre ambos.
Evidentemente que o livro permite sentir a misoginia e o preconceito sofrido por Hedy principalmente na forma como o Exército lida com a invenção e como sugerem que deve ser sua contribuição para acabar com a Guerra.
Hedy Lamar queria criar um sistema de torpedos secretos, à prova de falhas e de rádio para ajudar os Aliados. Em seus conflitos internos via isso como um meio de não se culpar por seu passado e encontrar a redenção por tudo que escutou enquanto esteve casada com Mandl. Por isso, criou um sistema secreto de comunicações que é a base para o Wifi hoje.
É evidente que muitas contribuições femininas para diversas áreas foram deixadas de fora da história mundial e, infelizmente, fiquei com a impressão de que a vida de cientista da vienense judia Hedy Lamarr restou relegada no livro.
É um belo romance, uma narrativa envolvente e um relato fictício da história de Hedwig Kiesler, mas acredito sinceramente que poderia ter feito mais jus a sua luta e suas contribuições a fim de honrar o legado científico de Hedy.
Eu recomendo o livro, achei uma boa história, mas que não atingiu o objetivo de mostrar toda a genialidade de Lamarr como cientista... ficaram muitas lacunas e personagens não explorados com um final que me pareceu terminar abruptamente, mas mesmo assim serve ao propósito de entreter e contar um pouco mais sobre a vida, intensidade e complexidade de uma mulher tão importante.
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